segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Presente!


Tenho alguns problemas em chegar a tempo, seja aonde for. Chegar a este blogue não foi exceção. Estive para fora umas semanas...

E porque cá estou?
Porque tenho tempo.

Elisabete

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Foda do lar


É de manhã e neste momento estou no comboio.

 Acordei cedo, vesti-me de forma elegante, mas descontraída, maquilhei-me para que pareça que não estou maquilhada e dei aquele jeitinho ao cabelo. Usei o creme corporal especial (aquele que cheira mesmo bem e que custou os olhos da cara) e enfiei os sapatos altos.

 A viagem de comboio é de média distância, por isso já tive tempo de rever a proposta que vou apresentar daqui a algumas horas, numa reunião que tenho marcada com uma das empresas mais importantes (leia-se com muito dinheiro) de Portugal. É uma reunião importante e dela dependem muitas coisas, mas não estou nervosa. De certeza que vai correr bem e já percebi que se as coisas não avançarem, não será por falta de empenho ou profissionalismo meu, mas sim devido à p*%& da crise (também estou farta de ouvir esta palavra, não p*%& - essa uso com frequência -, mas sim crise).

Fazendo o ponto da situação: estou gira e confiante, o que resto está nas mãos de ... Deus? 

Aproveitei para dar uma limpeza ao meu portátil. Limpeza de pó e dedadas. Detesto abrir o PC e aperceber-me que está cheio de lixo, que com a luz de casa não se vê. (Não vos acontece?) E com isto lembro-me de uma coisa que me preocupa. E que me perturba desde que acordei, enquanto tomava banho e me penteava e maquilhava e escolhia os sapatos adequados…

 Dez minutos depois do despertador tocar, e enquanto dormia “só mais um bocadinho”, veio-me à memória que tinha uma máquina de roupa cheia e acabada de lavar e que até à noite, quando chegar a casa, vai ter que lá ficar a ganhar mofo. E tenho quase toda a certeza que esta lembrança me vai assombrar durante a reunião, ainda que seja em algum momento pontual.

Na verdade o que me perturba não são aqueles 7 quilos de roupa molhada que estão a ganhar musgo dentro da máquina. O que me perturba realmente é que nada fazia prever que, um dia, este tipo de situação me pudesse preocupar ou ocupar o pensamento mais que um segundo. E de repente é a roupa, é o pó, é o frigorífico vazio, é a cama por fazer, é...

Não gosto de tarefas domésticas. Na adolescência, quando me projectava com a idade que tenho agora, imaginava-me tal como estou (mais magra 4 quilo, talvez), mas sem as preocupações domésticas à mistura. E como esta preocupação não estava prevista, deixa-me um pouco desnorteada. E isto faz-me lembrar que há uma série de coisas na minha vida que não previ e que agora há muitos momentos que não sei como reagir. Mas estou a aprender, por isso tento, com todas as minhas forças, deixar-me ir sempre que posso. Não antecipar problemas sempre que consigo e desligar-me de preocupações, quando não as posso solucionar. (Confesso que fazer esse esforço, às vezes, me custa mais que tentar ser uma “control freak”)

Vou no comboio, gira e descontraída e neste momento, a não ser que ganhe super-poderes de teletransporte ou de mover objectos à distância, não vou conseguir estender a roupa que descansa no interior da minha máquina de lavar, por isso vou concentrar-me na beleza dos meus sapatos e nos milhares que vou sacar, esta tarde, àqueles senhores da empresa rica do nosso Portugal.

Será que a Jennifer Lopez antes de ir gravar um videoclip ou a Hilary Clinton antes de uma reunião com o Obama têm as mesmas preocupações? Da próxima vez que as vir na TV vou olhar com atenção e tentar ver se há ali algum vislumbre de preocupação doméstica no olhar.

Estou a chegar ao meu destino. Wish me luck!

Violeta

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Percentagens

Não é todos os dias, nem pouco mais ou menos. Também não percebi com que frequência é, ou em que momentos exactamente acontece, mas vamos dizer que acontece 10.2% do tempo em que estou acordada. Partindo do princípio que durmo, em média, 8 horas sobram-me 16 horas por dia. Ou seja, e só para arredondar, cerca de uma hora e meia por dia. Mas é só uma média porque há dias seguidos em que não acontece e outros em que acontece durante todo o dia (acordada e a dormir) e vários dias seguidos.

Hoje estou num dia neutro, mas há dias em que penso que casar com quem casei foi o pior erro da minha vida e que seria muito mais feliz se estivesse sozinha/com outra pessoa.

Isto não é uma coisa que se diga de ânimo leve, nem mesmo num blogue, porque implica fazer uma análise profunda das coisas ou então relativizar ou recorrer à dissonância cognitiva.

Hoje, como disse, ainda não gastei a minha hora e meia neste pensamento (suponho que escrever este post já irá descontando alguns minutos desse tempo), mas há dias em que acredito que era melhor pessoa antes , mais descontraída, mais feliz e com mais vida.

Os outros 89.8% do tempo tudo corre sobre rodas.

Será que há mais gente a sentir a mesma coisa?

Violeta

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Namorado feliz

Por falar em meias e cuecas. Tive um namorado, muitos anos, que era um amor. Hoje em dia o que mais sinto a falta nele é que era uma pessoa “equilibrada” e feliz. 

Deixei-o e desde então todos os namorados que tive eram mais infelizes que ele. 

A única coisa que deixava esse namorado feliz infeliz era dobrar meias e cuecas. Mas eu fazia-o por ele e isso fazia-me feliz.

Violeta

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

O corpo habitua-se a tudo

Quando entrei para o Yoga estava completamente enferrujada e a minha professora na altura, perante a minha impossibilidade de me contorcer em certos exercícios, disse-me: o corpo habitua-se a tudo.

Um dia fui passear para um jardim da cidade e sentei-me num banco a relaxar. Ao meu lado estava um casal de meia-idade. Ele estava muito mal-disposto e fartou-se de lhe dizer coisas desagradáveis. Ela mexia-lhe no cabelo, ele ladrava. Ela fazia um comentário sobre os patos, ele grunhia. Ela coçava a orelha, ele praguejava. Ela fartava-se de rir, como se tudo o que ele dizia tivesse piada.

Percebi que aquilo era uma dinâmica de casal, mas aquela situação desagradou-me. Apesar da ligeireza da senhora (que era muito bonita)  perante o sucedido, tive pena dela e imaginei-a a viver com aquilo diariamente. Um homem com uma má-educação e má-disposição crónicas.

Em certas situações o que me chateia, muitas vezes, não é a situação em si. É a situação já não me chatear. De todo. E dou por mim a rir às gargalhadas, como a senhora bonita do banco do jardim.

Violeta

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Horas que se transformam em minutos


Vou contar um segredo que não contei a ninguém. Sinto-me atraída por uma pessoa. Um homem, que não o meu. Mas é meu amigo. Mais ou menos. E mais amigo ainda do meu marido.

Esta estória tem pouca história. Pouco tempo depois de me casar conheci-o. Bonito, atencioso, reservado e comedido. Na altura ele tinha um relacionamento, mas depois deixou de o ter. E foi aí que, para mim, as coisas começaram a mudar. Só um bocadinho. E às vezes afectam-me mais que outras. Neste momento ando tranquila e consigo estar serena em relação a isso. Serana e racional. Por isso estou a escrever sobre o assunto… Não me sinto culpada (quase nunca), porque sei que é normal

Um dia tivemos um jantar em casa de alguém. Éramos muitos amigos. Aos poucos todos se foram indo embora. E ficámos nós dois na conversa sozinhos: falávamos de nós, da nossa infância, dos nossos gostos, das nossas recordações, das nossas famílias, dos livros que líamos, das músicas que ouvíamos, de alguns medos e alguns desejos… Nunca revelámos muito, revelando tudo. Será que me faço entender? 

As conversas eram íntimas, sem serem privadas. E de repente eram quatro da manhã e despedimo-nos. E ele despediu-se de mim com pena, com um brilho no olhar e olhou para trás num último aceno. Foi este último aceno que me condenou e nunca mais me largou.

 E vieram outras conversas parecidas. Só quando estávamos sozinhos. E mais brilhos quando me via. Ou se despedia. Comecei a procurá-lo. Casuais eram os encontros, sem o serem. E só falo por mim, claro! Certo?

E depois tive de deitar um balde de água fria por mim abaixo. E afastei-me. O máximo que pude. Nunca mais consegui ser amiga como era no início. Nunca mais consegui marcar um café, como marco com a Ema ou com a Elisabete. 

Há cerca de 1 ano que sinto isto assim. Aquece e arrefece. E depois concentro-me em outra coisa. Não quero dar a impressão errada. Já devo ter dado a certa, certo?

Há um mês atrás iniciámos trocas esporádicas de emails informativos: com coisas que gostamos e que sugerimos ao outro. Entre essas coisas vêm muitas músicas e muitas delas falam de amor. E fico confusa. Mas na verdade a maior parte das músicas falam de amor, não é?

Hoje não estou confusa e sei que somos dois amigos a trocar ideias. Mas amanhã não sei e às vezes tenho medo. Medo não, receio. Não propriamente do que pode acontecer, mas antes do que queria que acontecesse. Vou parar com os emails e as conversas de horas que parecem minutos, quando ninguém vê. A partir de hoje.

E depois concentro-me em outra coisa. Nem que seja em meias e cuecas.

Violeta

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Meias e Cuecas


Porque me juntei a este blogue?
É simples, questões monetárias.

Passo a contar. Há a dias o meu chefe, para quem trabalho há 10 anos em regime de freelancer, chamou-me ao escritório. Queria falar comigo. Isso só podia querer uma de duas coisas: ou boas notícias ou muito más notícias. Passei dois dias a ruminar naquilo e a tentar manter o pensamento positivo, mas algo me dizia que o vinha dali não era bom. Pensei em 1001 hipóteses e posso já adiantar que não foi nenhum delas a que se concretizou.

Chegado o dia, entrei no escritório e só estávamos os dois. Falou-me do tempo, falou-me da vida, falou-me dos filhos e perguntou-me como eu andava. Foi aqui que comecei a ter a certeza que vinha machadada certa por aí fora. E assim foi e começou ele: “Com a crise andamos a reestruturar as coisas pela casa, e resolvemos tirar-te do projecto IBM, porque arranjámos quem fizesse mais barato e blábláblá...” por esta altura deixei de ouvir, tentei manter um sorriso sereno enquanto pela minha cabeça as únicas palavras que pairavam eram “FILHO DA PUTA”.

Era um drama controlado, porque só me tiraram uma parte das funções e por isso o salário foi reduzido, mas continuei com trabalho. O verdadeiro drama veio depois, quando conheci a minha substituta: era mais magra, mais nova, muito bonita e, como se não fosse suficiente, simpática! A puta tinha tudo. A cereja em cima do bolo foi saber que, um dos colegas de trabalho, com quem em tempos tive um romance escaldante, andava em vias de a fornicar.

Umas semanas depois fiz anos e diverti-me imenso. Foi cheio de família e amigos e no dia seguinte entrei numa crise que me dura até hoje. Já passaram 2 meses. Rugas que nunca tinham visto na minha cara apareceram, o meu reflexo no espelho começou a parecer-me baço e cansado e ando com pouca vontade de fazer coisas. Estou numa crise dos 30 e alguns... mas não se nota! Juro. Continuo tão bem disposta como antes. Só à noite, quando estou sozinha, é que me permito alguma tristeza. Depois limpo a lágrima no canto do olho e lá vou dobrar meias e cuecas.
Já frequentei terapia. É bom, mas é caro. Como me reduziram o salário, uma amiga sugeriu “E se escrevesses tudo num blogue? Podia servir de terapia.”

Ok. Vamos lá então a essa plástica emocional.

Violeta