terça-feira, 1 de março de 2011

Dia de S. Valentim


Já não sei do Valentim há 2 anos. Quando vim morar com o João afastei-me lentamente por questões geográficas e porque tínhamos vidas diferentes. Quando cheguei de viagem tive notícias dele através do Facebook. Um amigo comum disse-me que ele está no hospital, vítima de um AVC.

O Valentim deve ter agora, mais ou menos, 36 anos. Sei que é alguns anos mais velho que eu. Conheci-o quando ambos morávamos em Londres. Mal o vi senti-me logo atraída por ele: era magrinho e moreno. Tinha os cabelos aos caracóis escuros, que lhe caiam na testa, um olhar malandro e vivo e era muito enérgico. Era um simpático sedutor, com sotaque alentejano e divertia-me imenso. Estar com ele sempre foi sinónimo de festa, noite e excessos. Nunca estivemos apaixonados um pelo outro, mas dormíamos juntos muitas vezes. A última vez que o fizemos já eu praticamente vivia com o João. Eu sabia que ia ser a última vez e que depois daquilo nos afastaríamos. Foi uma noite tão louca que não me lembro de metade e pelo caminho perdi um sapato. Não sei como. 

Lembro-me de sair e encontrar-me com ele e mais uns amigos num bar. Lembro-me de ir para uma discoteca e de me estarem sempre a oferecer drogas, essencialmente coca e MD. Depois lembro-me de estar nua na cama dele e sair de lá a correr para voltar para casa. Era quase meio-dia e fiquei com receio da reacção do João. Mas não houve problema. Ele abriu-me a porta, disse-me bom dia e eu fui dormir. Hoje percebo que ele se deve ter dado conta que eu estava drogada até à medula, mas na altura achei que não. O João odeia drogas.

Durante os quase dois anos em que estive com o Valentim as noites eram sempre assim. Éramos um bom par e dançávamos imenso. E apesar dos excessos sentia-me sempre protegida e mimada por ele, principalmente depois do que tinha passado antes de o conhecer. Era uma óptima companhia e ambos sabíamos que o que tínhamos era efémero. Na verdade não imagino o Valentim a ter algo que não seja efémero: relações, trabalho, casa... Percebi isso desde o início, por isso sempre soube com o que contava. Homens como ele são transitórios na vida de qualquer mulher, mas isso fica subentendido logo desde o princípio e se não cairmos na tentação de querer fazer deles os nossos príncipes encantados e tivermos a coragem de os ver como eles são, será uma época inesquecível. Com o Valentim foi. Depois eu iniciei uma relação com o João e o Valentim, uns tempos depois, foi morar para Barcelona e eu vim para Portugal. Íamos trocando umas mensagens, mas há dois anos que não sabia dele.

Ontem o Zé disse-me que o Valentim estava no hospital. Eu fiquei preocupada e passei a noite a relembrar aquela época. Estou com vontade de o ir ver a Barcelona.
Elisabete

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